segunda-feira, 15 de julho de 2013

Está por ora silencioso, o meu charco…







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Relativamente ao meu jardim, gosto de partilhar os meus sucessos. Julgo contudo também vantajoso expor as minhas experiências negativas, contribuindo para que outros não passem por elas.
Após ter construído o meu charco, para uma rápida instalação, colonizei-o artificialmente. Consciente da problemática das invasões biológicas, a colonização foi feita com plantas e animais recolhidos nos habitats aquáticos mais próximos. Trazidos da Beira Litoral, minha região de origem, os nenúfares foram a única exceção.

Há talvez dois anos, numa incursão a um curso de água próximo, detetei a presença de lagostins. Conhecia os lagostins presentes na Beira Litoral – lagostins vermelhos da Louisiana. Estes pareciam-me diferentes. Tinha conhecimento histórico de no Alto-Douro existirem os chamados lagostins-de-pés-brancos, uma espécie autóctone. Transportei meia dúzia de lagostins para o meu lago.
Ora este ano e nesta primavera comecei a verificar que os meus nenúfares tinham folhas e flores bastante roídas. Outras espécies de plantas tinham simplesmente desaparecido. Também verifiquei existirem rãs com as patas mordidas (conferir imagem acima). Quando numa noite observava o charco com uma lanterna, conclui já não ter apenas meia dúzia de lagostins – tinham-se reproduzido. Alguns dos lagostins presentes tinham grandes dimensões. Quando os capturei ainda pequenotes tinham o exosqueleto descolorado, provavelmente por terem mudado recentemente de “casca” – fui irresponsável, deixei-me enganar. Afinal eram lagostins vermelhos da Louisiana, uma espécie invasora.
Felizmente, os lagostins vieram de um curso de água próximo. Já instalados na região, não quero contudo contribuir para a sua dispersão.
Para me ver livre dos lagostins, vazei o lago - mantive-o seco toda a semana passada. Espero que esta ação seja suficiente para eliminar os lagostins em todos os estágios de desenvolvimento. Secar o lago agora no verão minimiza a possibilidade de dispersão dos lagostins pela região. 
Entre os lagostins que fui apanhando à lanterna e os que apanhei quando vazei o lago, contei aproximadamente 50. Não havia juvenis nem fêmeas com ovos presos. Os lagostins aguardam agora na arca congeladora pelo próximo arroz de marisco.
Quanto às rãs, aquando da secagem do charco capturei nove, só duas delas sem qualquer lesão induzida pelos lagostins.
Por não ter condições de alojamento à altura, as rãs capturadas foram devolvidas a uma ribeira próxima.
No passado fim-de-semana enchi finalmente o charco, que aparentava estar totalmente desidratado. Curiosamente, à exceção de uma menta-de-água que aparentemente morreu, as restantes plantas resistiram bem à secagem do charco. Para minimizar a hipótese dos vasos dos nenúfares albergarem algum hóspede indesejado, os nenúfares depois de bem lavados foram reenvazados com terra nova.
No dia em que enchi o charco, aparentemente do nada surgiram três rãs – tinham sobrevivido a uma semana sem água. Espero que a mesma sorte não tenham tido os lagostins.
Tenho saudades do coaxar das rãs, música que certamente há-de voltar.
Rafael Carvalho / jul2013

10 comentários:

  1. Testemunho importante. Fica bem evidente nesse seu micro-cosmos, o que uma espécie exótica invasora pode causar quando introduzido num ambiente que não o seu.

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  2. Aquifolivm,
    a introdução de espécies invasoras parece ser uma das maiores causas para a perda de biodiversidade.
    Cumprimentos.

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  3. Ainda bem que estava atento e conseguiu identificar o problema e rapidamente lhe deu a solução adequada. Breve, breve, o seu charco vai fervilhar de vida novamente... apesar de tudo a natureza consegue ser bem resistente.
    Cumprimentos

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  4. Fernanda,
    obrigado pelo comentário.
    "Fervilhar de vida", gostei da expressão.
    Cumprimentos.

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  5. Achei muito interessante esta sua descrição e realmente a introdução de espécies exóticas é de todo de evitar. Também construímos em 2012 um charco e colonizamo-lo artificialmente, indo buscar umas rãs verdes a um tanque próximo. Agora, as rãs procriaram e já são perceptíveis os girinos. Outros anfíbios (salamandras e tritões)colonizaram naturalmente o charco, bem como os barqueiros, alfaiates e escaravelhos-de-água. Também deparamos que existem larvas de libélulas e desta forma o charco está a aumentar e diversificar a sua fauna. Estamos a pensar introduzir o cágado-comum (cágado do mediterrâneo), por ser autóctone, por se adaptar a esse ecossistema e também para fazer as delícias dos mais pequenos. Esperamos que não haja inconvenientes e não me venha a deparar com uma situação idêntica à que passou...

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    1. Caro amigo(a)
      Sinto alegria na descrição das suas atividades/observações - temos isso em comum.
      Para além da bicharada a que se refere, o meu charco tem a visita ocasional de uma ou outra cobra de água viperina.
      No meu caso, pela restrita dimensão do meu charco, que se quer auto-sustentável, não ponho a hipótese de vir a ter um cágado.
      Cumprimentos.

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    2. Parabéns pelo charco que criou! Devo só alertar para algo muito importante: nem o cágado-comum (Mauremys leprosa) nem o cágado de carapaça estriada(Emys orbicularis) devem/podem ser mantidos em cativeiro (é punível por lei). Essas espécies devem ficar na Natureza para que se possam reproduzir, uma vez que se encontram em regressão :-) Espero, portanto, que não o faça...
      Não introduza qualquer espécie exótica, como é o caso de Trachemys spp. (vejo que está a par das consequências). Até para evitar degradar o ecossistema que conseguiu criar, que conta com uma cadeia trófica que reúne predadores com necessidades alimentares e de espaço adequadas a um charco desse género.

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  6. Fico muito contente por tudo se ter resolvido :-) Além de serem muito prolíferos, os lagostins em jovens são vorazes predadores de anfíbios (incluindo os girinos aos quais mutilam as caudas), com o passar do tempo tornam-se cada vez mais herbívoros, alimentam-se das plantas dos charcos e cortam todas as que surgem pela frente. Fazem inúmeros buracos no solo (podem permanecer enterrados quando o charco seca no verão, atenção a isso) e revolvem constantemente os sedimentos, pelo que a água adquire uma cor acastanhada.
    Conseguem ainda propagar-se pelos charcos e ribeiras próximas.
    Atenção a outra questão: não aconselho o consumo dessa espécie, pois possui parasitas intestinais. Continue, ainda assim, a eliminar todos os que encontre para que não destruam o charco.

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  7. Ah, a espécie nativa a que se refere está, muito provavelmente, extinta graças às espécies exóticas e consequente alteração do habitat :(

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  8. Cara Ana Rita,
    agradeço os seus comentários e a informação neles contida.
    Quanto às espécies exóticas invasoras tenho consciência de que são um problema efetivo. Existem já casos comprovados da reprodução da tartaruga da Flórida no nosso país.
    Cumprimentos.

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